Lira Paulistana resgata a memória de São Paulo

Por Juliana Rancario, site Terra – 28/5/2012

Riba de Castro: "Gostaria de conseguir fortalecer ainda mais essa ânsia de independência e a noção de que todos podem fazer história"

Riba de Castro: “Gostaria de conseguir fortalecer ainda mais essa ânsia de independência e a noção de que todos podem fazer história”

Na abertura do 4º Festival In-Edit, festival internacional de documentários, em 31 de maio, às 19h30, no MIS (Museu da Imagem e do Som) será exibido o longaLira Paulistana e a Vanguarda Paulista, do diretor Riba de Castro. O filme conta a história da casa Lira Paulistana, que entre os anos de 1979 e 1986, foi um espaço que recebeu novas tendências musicais na cidade de São Paulo.

Localizada na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, a casa foi movimentada por artistas como Itamar Assumpção, Grupo Rumo, Premeditando o Breque, Titãs, Cólera e Inocentes. Perto dali, na praça Benedito Calixto, esses mesmos cantores e grupos se encontravam para shows e promoção de seus trabalhos.

Em entrevista ao Terra, Riba de Castro contou que era produtor do que chama de movimento e agora pretende resgatar os principais momentos dessa história, contados por quem realmente a presenciou e ajudou a construí-la, servindo de registro e inspiração para as novas gerações.

Entre os protagonistas do filme estão Arrigo Barnabé, Luiz Tatit, Lanny Gordin, Marcelo Tas, Maurício Kubrusly, Ná Ozetti, Paulo Tatit, Nelson Ayres, Fernando Meirelles, Paulo Caruso, Laerte Sarrumor, Tetê Espíndola, Wandi Doratiotto, Eduardo Gudin e Roger, do Ultraje a Rigor.

Além de abrir o festival no MIS, Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista também será exibido nos dias 1º e 6 de junho, no Cine Olido e no CineSesc, respectivamente, em sessões comentadas pelo diretor.

Confira abaixo a entrevista completa com Riba de Castro:

Terra – Qual a importância de exibir o filme na abertura do Festival In-Edit?
Castro – É uma grande satisfação participar da 4ª edição de um festival que eu já acompanhei em Barcelona há 20 anos. O filme Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista era para estar pronto para a 1ª edição, mas demoramos mais do que o previsto. O mais legal de exibir o filme em São Paulo é que estamos mostrando uma parte da memória da própria cidade. Muito estudos já foram feitos sobre o Lira até hoje, mas nenhum conseguiu mostrar que não foi só uma casa de shows, mas também foi onde surgiu a chamada Vanguarda Paulista. Além disso, tivemos outros movimentos importantes, como um jornal semanal, gravamos alguns dos primeiros CD’s de alguns artistas que estavam ali, tínhamos uma editora, gravadores, e algo de que me orgulho muito: fizemos um grande mural plástico na Benedito Calixto, em um momento em que ainda não existia intervenção nas ruas. Nós também transformamos a Benedito Calixto em um local famoso e movimentado porque fomos nós que começamos a fazer shows ali. Quero mostrar tudo isso para quem não acompanhou ou não conhece a história.

Teatro, gravadora, editora...A capa de um dos muitos discos que o Lira lançou

Teatro, gravadora, editora…A capa de um dos muitos discos que o Lira lançou

Terra – O que você quer passar de mensagem para as novas gerações com o filme?
Riba de Castro – A ideia de que a produção cultural, para possuir o seu valor, não precisa estar atrelada aos grandes meios. As pessoas podem fazer as coisas acontecerem, mesmo sem grandes pretensões e com divulgações menores. Isso é o que hoje chamamos de produção independente. É muito fácil gravar um CD, um vídeo ou fazer alguma produção cultural. Fernando Meirelles começou assim e hoje construiu seu pequeno império; gostaria de conseguir fortalecer ainda mais essa ânsia de independência e a noção de que todos podem fazer história.

Terra – Qual a história mais marcante da casa Lira Paulistana?
Castro – O que mais me marcou foi a primeira vez que a gente ocupou a Avenida Paulista, em 1973, no aniversário de São Paulo. Ver a avenida fechada por um concerto de música independente fez a gente pensar assim: “saímos da Benedito Calixto e estamos conquistando São Paulo”. Não foi por amizades, foi uma proposta que veio da Secretaria de Cultura porque viram a relevância da nossa história.

Terra – Como foram escolhidos os protagonistas e como surgiu a ideia de fazer um registro cinematográfico?
Castro – Quando eu soube da morte do Itamar Assumpção, em 12 de junho de 2003, me peguei lembrando das histórias da turma do Lira Paulistana e resolvi começar a escrever um livro com esse material. Mexendo nos meus arquivos para procurar o embasamento do livro, percebi que tinha praticamente o acervo todo daquela época guardado. Fui procurar apoio para o livro e me dei conta de que as pessoas já não apostam em material escrito mais, e resolvi mudar o rumo para fazer um filme. O mais legal do longa é que eu fiz em um momento no qual as pessoas que fazem parte da história puderam contá-la.

4º Festival In-Edit
Em sua quarta edição, o Festival In-Edit, um festival internacional de documentários, vai homenagear o DJ inglês de origem jamaicana Don Letts, que registrou o nascimento do punk em Londres e seguiu carreira fazendo grandes documentários musicais.

Além dele, o cineasta finlandês radicado no Brasil Mika Kaurismäki também foi convidado para mostrar seus filmes sobre música; o músico e diretor basco Fermín Muguruza apresentará sua série Next Music Station, retratando a cena atual nos países árabes; e o francês Florent de la Tullaye para apresentar seus trabalhos realizados nas ruas de Kinshasa (República Democrática do Congo).