Camilo Frade: sem medo de música

Aos 16 anos, filho de Nhô Lambis, do Grupo Paranga, lança seu primeiro disco com as benções de compositores como Carlos Rennó, Lula Queiroga, Teresa Cristina e Karina Buhr

Por Danilo Casaletti

Camilo Frade: primeiro disco aos 16 anos

Camilo Frade: primeiro disco aos 16 anos

Nome: Camilo Moradei Frade
Idade: 16 anos
Pais: Álvaro José Frade (Nhô Lambis) e Lúcia de Fátima Lima Moradei Frade
Cantor preferido: John Mayer
Cantora preferida: Roberta Sá
Disco de cabeceira – De Graça – Marcelo Jeneci
Canção que gostaria de ter feito – Víbora – Tulipa Ruiz/Criolo/Caio Lopes/Luiz Chagas/Gustavo Ruiz
O que te faz seguir na música: O reconhecimento cada vez maior do público pelo meu trabalho e saber que é possível transformar a mundo usando apenas a arte.

Música para adolescente? Música para adulto? Camilo Frade, de 16 anos, prefere fazer apenas música. Filho de Nhô Lambis, do Paranga, grupo de São Luiz do Paraitinga que nos anos 80 desembarcou no Lira Paulistana para mostrar que também havia erudição na música caipira, Camilo lançou seu primeiro CD, Por que nós?, no começo deste ano.

Abraçado pelo produtor MAU – o mesmo de Karina Buhr -, o primeiro trabalho do cantor e compositor paulista traz dez canções, a maioria inédita, como o xote Nara, Nara, Nara, feito por Carlos Rennó e Lula Queiroga especialmente para Camilo. Vagalume, parceria entre Buhr e a sambista Teresa Cristina, foi outra que foi confiada ao jovem cantor.

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Camilo também mostrou, sob orientação de MAU, duas composições próprias, Embriaga eu e O mesmo que canta. “Alguns jornalistas compararam minhas composições com a do Los Hermanos”, diz, ao confessar que teve certo medo de colocar suas criações no disco.

Elogiado pelo crítica, Por que nós? já conquistou fãs fora do Brasil, o que enche Camilo de orgulho. Consciente do longo caminho que ainda tem pela frente, o cantor vai com calma, mas sem medos. “Na verdade, ainda não conheço quase nada da música. Tem dado tudo certo até agora e talvez por isso eu venho ousando e abusando cada vez”, diz.

Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista – Você lançou seu primeiro álbum muito jovem, com 16 anos. Antes, já havia participado de outras gravações. Quando descobriu que era música o que você queria fazer?
Camilo Frade – Nasci em um berço musical que é São Luiz do Paraitinga. Tive contato com a música nos dois lado da minha família. Meu pai é ex-integrante do Grupo Paranga e minha mãe filha de cantora e instrumentista. O ar de casa sempre foi infestado pelas melodias. De Paulinho da Viola a Ceumar. De Gilberto Gil a Moraes Moreira. De Marisa Monte a Ná Ozzetti. Durante a minha infância, fiz aulas de violino, violão e piano, mas, à medida que o tempo passava, fui percebendo que o queria era só um acompanhamento para a voz, eu gostava mesmo era de cantar. Comecei a cantar nas festas de família e de amigos e, em 2009, meu primo, Netto Campos, que era Secretário da Cultura daqui da cidade, propôs que eu fizesse um show no festival de inverno. Eu tinha 11 anos eu montei um repertório de 18 músicas que reunia Ceumar, Rita Lee, Sinhô, Lenine, entre outros compositores. Esse show foi gravado pelo técnico de som e, quando percebemos, já havíamos distribuídos mais de 250 CD’s com essa gravação. Três meses depois, fui convidado pelo tio Negão (Negão dos Santos, do Paranga), para participar da gravação de um DVD que iria homenagear o centenário do compositor conterrâneo, Elpídio dos Santos. Nessa apresentação, dividi o palco com Zeca Baleiro, Fafá de Belém, Renato Teixeira, Zé Geraldo, Suzana Salles, entre outros. A partir desse momento, quando subi no palco e cantei ainda meio engasgando com o choro, para mais de 8 mil pessoas, eu tive certeza de que esse era o caminho que eu queria seguir. 

LPVP – Seu primeiro trabalho traz composições de grandes compositores, tanto da antiga (Lula Queiroga e Carlos Rennó) quanto da nova geração (Karina Buhr e Teresa Cristina). Como essas músicas chegaram até você?
Camilo – Sempre gostei de coisas novas, de misturar coisas diferentes e reuni-las em um lugar só. Minha intenção, ao montar o repertório de Por que nós?, foi essa. Juntei todas as minhas influências que marcaram minha carreira até então, como Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik, com os artistas dessa nova geração que eu vinha ouvindo ultimamente, como o Marcelo Jeneci e Karina Buhr.  Tinha o e-mail do Carlos Rennó nos meus contatos e, como sempre admirei o trabalho dele, resolvi mandar uma mensagem falando do CD que eu estava gravando e disse que ficaria muito grato se ele pudesse me mandar uma canção. Fiz a mesma coisa com o Lula Queiroga. Os dois foram muito atenciosos comigo. Eles nunca haviam me visto, nunca haviam ouvido falar de mim. Apenas botaram confiança no meu trabalho e, para a minha surpresa, compuseram Nara, Nara, Nara especialmente para esse disco. Já a canção Vagalume eu conheci na internet, pelo Compacto Petrobras, em que a Karina Buhr e a Teresa Cristina cantavam juntas. Fiquei louco por aquela música que nunca havia sido gravada e logo falei pro MAU (que é produtor e baixista da Karina) que queria gravá-la. As duas também depositaram total confiança nesse trabalho e Vagalume entrou pro CD. A maior parte das canções do disco são inéditas, outras eu me senti na obrigação de regravá-las por me identificar com o momento e com o que elas passavam. Manter contato com todos os compositores desse disco foi essencial pra essa minha formação musical.

Com a palavra, os pais:

LPVP – Você também compõe, mas optou por colocar apenas duas canções suas no disco. Por que?
Camilo – Eu não pensava em colocar nenhuma composição minha no disco. Era um pouco inseguro e tinha medo do que as pessoas iriam achar delas. Tinha medo de não ter o mesmo conteúdo ou de soarem um pouco “imaturas” perto das outras. Mas um dia resolvi mostrar para o MAU duas músicas que havia composto. Ele curtiu bastante e pediu para que eu colocasse ao menos uma no disco. Mais uma vez, depositei toda a confiança na intuição dele e encaixei “Embriaga Eu”. Na semana seguinte, quando os músicos vieram em casa para ver as músicas que eu tinha escolhido, mostrei a outra canção minha que tinha ficado de fora e eles fizeram questão que ela entrasse também. Mas foi no estúdio que essas músicas foram tomando forma e que eu fui me familiarizando mais com elas. Elas encorparam de um jeito que eu não esperava e, quando fui lançar o disco, mesmo com um pouco de medo ainda restante, estava mais tranquilo pra divulgá-las. O resultado veio depois, quando alguns jornalistas compararam minhas composições com a do Los Hermanos. Sei de pessoas que as têm como preferidas e diversos artistas que vieram parabenizar. Agora já não tenho mais medo, quanto a isso (risos).

LPVP – Você chegou a receber algum convite para fazer música para o público adolescente? Aceitaria?
Camilo – Eu acho que um dos problemas da música atual é essa separação entre “música para adolescente” e “música pra adulto”. Por mais que meu disco tenha sido enquadrado pela crítica na segunda opção, tenho fãs de todas as idades, principalmente adolescentes. Acho que tudo vai do recado que o disco pretende passar. Um dos maiores privilégios dessa cena independente é essa liberdade que a gente tem de juntar tudo em um CD só. Hoje, sei que tenho a liberdade pra aceitar ou recusar convites de gravadoras que têm como intenção “limitar” o meu trabalho a um determinado tipo de público. Estou fazendo o que eu gosto, cantando o que eu quero e o maior prazer está nessa liberdade. Ainda tenho uma visão otimista das gravadoras. Podendo fazer o que eu quero, tanto faz estar dentro ou fora de uma.

Ouça Camilo Frade cantando Vagalume

LPVP – O álbum foi bastante elogiado. Você ficou de olho nas críticas? Gosta de lê-las?
Camilo – O CD está sendo muito bem divulgado, tanto dentro quanto fora do Brasil! Fico muito feliz com essa proporção que ele está tomando. “Por Que Nós?” foi feito com todo o carinho. Todos os envolvidos, os músicos, que são amigos, o MAU que passou a ser da família, a minha própria família que tocou (no caso do meu pai e do Caio, meu irmão) e fez a produção executiva, o apoio da minha mãe, fez com que o disco tivesse esse tom mais abrangente com o público e a crítica. Até agora, todas as críticas que lemos foram boas, mas não irá haver problemas caso eu veja uma não tão boa assim. Estou sempre buscando crescer como artista. Tenho essa gana e essa garra para exigir sempre mais de mim mesmo e do meu trabalho. Esse tipo de crítica só me faria crescer, tenho certeza disso!

LPVP – Quais são os conselhos que seu pai te dá sobre a carreira artística?
Camilo – Meu pai sempre me incentivou, abrindo portas e alertando sobre os perigos. Busco sempre ouvir os conselhos que ele tem para me dar. Os tempos são outros, mas o universo é o mesmo. Ele sempre me deixou livre pra fazer minhas escolhas e eu venho tomando o máximo de cuidado possível. Ou não. Na verdade, ainda não conheço quase nada da música. Tem dado tudo certo até agora e talvez por isso eu venho ousando e abusando” cada vez mais. Não tenho medo dos perigos, estou sempre indo em frente de forma “cuidadosa”, mas, ao mesmo tempo, sem fronteiras. Se a música é um abismo, espero nunca chegar ao extremo (risos).

LPVP – Você ainda mora em São Luis do Paraitinga? Pensa em se mudar para São Paulo ou para o Rio de Janeiro para dar continuidade a sua carreira? Acha isso importante?
Camilo – Ainda moro em São Luiz e tenho mais um ano de ensino médio. Ano que vem começo a prestar os vestibulares e pretendo ir embora pra São Paulo, cursar jornalismo. Quero ser crítico de arte. Essa sede de conhecimento que os jornalistas têm é o que mais me atrai. Na verdade, vai ser uma extensão para a música. Quero continuar nessa estrada, não pretendo desistir nunca da música. Está no sangue, não tem para aonde fugir.